Quando se aproxima o Dia dos Namorados é comum se levantar questões sobre Paixão e Amor (menos por quem já está enamorado, uma vez que não interessa questionar, só aproveitar esse sublime momento de amar, de gostar sem questionar).
Mas quem se detém a observar esses aspectos há de concordar que a paixão é um passo pra amar, um estágio maior das razões do gostar, do simples desejo entre corpos que desejam estar juntos, em qualquer tempo, qualquer lugar .
Namoro é ensaio de Amor. “Ficar” é recreiro de Paixão. E nem toda Paixão redunda em Amor que, em análise mais profunda, não se resume em apenas no simples envolver, mas sentir além do que nos fazer envolver com alguém, que pode até não permanecer com você. Enfim, é por aí, ou quase assim, dependendo de cada um que esteja fora ou de dentro da situação.
Do ponto de vista emocional, sentimental, poético… nem os próprios poetas e escritores conseguem definir exatamente o que é paixão, o que é amor, embora esses conceitos sejam praticamente os elementos principais de seus labores. Aliás, o esforço em definir, tergiversar, até onde vai o ato de se apaixonar ou de amar é o que alimenta esse lado sedutor de saber o que sedimenta a paixão, o que indefine o que é amor.
Por enquanto, entre tantas noções, ou definições fiquem com a neorocientífica dos efeitos da paixão no seu cérebro, segundo a neurocientista do SUPERA – Ginástica para o Cérebro, Livia Ciacci. Conforme explica, o cérebro apaixonado consegue criar um padrão de ativação cerebral mais complexo do que a estimulação de todos os sentidos ao mesmo tempo.
“A paixão desencadeia atividade aumentada nas áreas subcorticais que estão associadas à euforia, recompensa e motivação”, detalhou. E de quebra, ela cita os efeitos da paixão no seu cérebro:
- Durante um beijo apaixonado, os vasos sanguíneos se dilatam e o cérebro recebe mais oxigênio do que o normal.
- O beijo também ativa os cinco dos doze principais nervos cranianos que estão no nosso rosto, e as informações recebidas serão enviadas para o cérebro, contribuindo para a liberação de ocitocina – o neurotransmissor do vínculo!
- Algumas pessoas comparam a paixão com o vício, quando as oscilações de neurotransmissores e hormônios causam uma deliciosa tortura, onde não comemos ou dormimos direito, e mantemos pensamentos fixos na pessoa.
- Durante os efeitos da paixão é mais difícil manter a concentração. Isso acontece pela diminuição dos níveis de serotonina, que é essencial para lidar com esforço cognitivo.
- Os neurotransmissores da paixão são os mesmos de sempre, comuns na regulação normal do sistema nervoso, porém especialmente três têm ações simultâneas nas sensações intensas do flerte – dopamina, feniletilamina e ocitocina. Mas com o tempo vamos ficando habituados aos efeitos e eles vão diminuindo.
- Somos biologicamente programados para manter o estado apaixonado em média de 18 a 30 meses. O que sobra após esse período é o companheirismo e o vínculo afetivo criado pelo casal;
- Temos a ilusão de que escolhemos nossos pares românticos, mas a verdade é que o jeito mais fácil de fazer com que um casal de mamíferos se apaixone e reproduza é mantê-los próximos durante algum tempo.
- Feniletilamina é um neurotransmissor parecido com as anfetaminas, e sua liberação no cérebro é desencadeada por detalhes simples, como um olhar ou a presença próxima.
- A fase da euforia é mediada por aumentos da dopamina e noradrenalina, neurotransmissores estimulantes, e a fase mais calma é mediada pela ocitocina, que vai alimentar o companheirismo;
- A testosterona é um hormônio importante na paixão, mas muda de forma diferente nos dois sexos. A quantidade dele aumenta na mulher, que então sente mais atração, e diminui nos homens, que ficam menos agressivos.
Mas, independentemente de qualquer explicação, poética, filosófica ou científica, amar, ou só se apaixonar, é que o nos vale para dar o sentido elementar de viver, com ou sem par.
Texto: Evandro Lobo – Jornalista e Poeta