Confesso: me incomoda muito ver corpos masculinos e femininos cheios, lotados de tatuagens.
Para mim, parecem os corpos daqueles integrantes da Yakusa, a Máfia Japonesa, que tem na tatuagem uma tradição, um significado, uma obrigação e uma necessidade de simbolizar algum ato ou efeito.
Insisto: ainda não vi uma explicação possível, plausível e palpável, para encher o corpo de riscos, pinturas, mensagens, símbolos que nem quem as faz nota mais.
Posso até aceitar uma ou duas tatuagens no máximo, com todo seu simbolismo, e também como expressão artística mas, quando parte para o exagero (vejam os corpos dos jogadores “famosos”, por exemplo) acredito que a tolerância visual vai a zero.
E quando vejo corpos lotados de riscos pergunto-me será que é compulsão ou alguma forma de manifestar algo que lhe inquieta, a alma, o coração ? Não seria melhor usar as redes sociais ou um caderno para guardar aquela manifestação de carinho, de amor, aquele versículo, aquela imagem etc.
Será que alguém que faz uma série de tatuagens espera mesmo que as pessoas vejam ou leiam o que ali está escrito ? E quando envelhecerem, o corpo engelhar e nada mais vai ser possível ver, tudo há de se esquecer, inclusive a tatuagem que você quis mostrar.
A tatuagem é fundamentalmente uma forma de chamar a atenção para si e dos outros.
Será que quem enche o corpo de tatoos é reflexo de uma insegurança ou exposição excessiva do ego, das suas inquietações interiores ou exteriores ?
Não quero me ater a explicações psicológicas, artística, ou até filosóficas sobre o ato de tatuar excessivamente o corpo.
Até porque muita gente já vive disso, vive pra isso, e não dá pra simplesmente querer o fim desse (mal) hábito. Prefiro poetizar a respeito disso (veja a seguir) e reiterar meu asco ao uso excessivo da tatuagem.
Sempre.
De que valem
tantos riscos
desenhos e rasuras,
pelo corpo,
se nada disso traduz
ou conforta
o complexo escopo
de tantas alma à procura
de sua verdadeira pintura ?
Texto: Evandro Lobo/ Jornalista e Poeta