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A IMBROXÁVEL INDIGNAÇÃO

Quando um Presidente da República usa a celebração dos 200 anos de Independência (política) do Brasil para mostrar a sua “duvidosa” condição sexual de “imbroxável”, é sinal de que esse país realmente não é sério, ou ainda peca em muito pela devida punição de quem não o leva a sério, principalmente de quem deveria levar.
Lembro do alvoroço na imprensa que a palavra “imexível”, dita pelo então ministro do Trabalho (1992), Antonio Magri, sobre o Plano Collor. Muitos acorreram ao dicionário para saber se a palavra existia, até porque o ministro era conhecido por proferir frases polêmicas, como considerar que “cachorro é um ser humano”. Depois, não adiantou muito, porque Magri foi afastado do cargo por suspeita de corrupção e Collor teve o destino que todos conhecem. E o que tem a ver com o “imbroxável” de Bolsonaro ? Acho que muito.


Pra começar, provocou o mesmo alvoroço, ou seja, muita gente foi ao dicionário pra saber se a palavra era com “x” ou com “ch” e se existia mesmo, embora a maioria já soubesse o significado. Depois suscitou inúmeras dúvidas sobre essa autoafirmação para um senhor de mais de 70 anos, mesmo com todo “histórico de atleta”, mas também com um histórico de abalos à saúde depois da facada que recebeu durante campanha em 2018. Mas, o pior, foi o asco e indignação que causou no público feminino a repetição da expressão machista, diante da mulher dele e de uma multidão de apoiadores que normalmente analisa e só aceita, rumina e reverbera o que ele diz. Acredito que na acepção de Bolsonaro brasileiro gosta de cabra macho e (auto)afirmar essa condição a milhares de pessoas, trar-lhe-á mais dividendos eleitorais. Ou talvez esteja contando com o respaldo da carga superfaturada de mais de 30 mil Viagras adquirida este ano pelas Forças Armadas . Enfim, são só especulações.


O grave mesmo de tudo isso é que assuntos como esse tenham sido o foco das atenções, enquanto se celebra os 200 anos de libertação política de um país que, infelizmente, ainda não se livrou da ignorância, do ódio, da intolerância e outros males seculares. Era um bom momento em que todos, e em especial o Sr. Presidente, deveriam envidar esforços para discutir sobre o que erramos e no que podemos tentar corrigir esse país, torná-lo numa nação séria e respeitável, e para que daqui a 100 ou 200 anos não tenhamos que ver e se envergonhar com um dirigente mostrar que a virilidade sexual é mais importante que a virilidade moral, econômica e política da nação.

Texto: Evandro Lobo/ Jornalista e Poeta

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