Um presidente da República ofende abertamente ministros do STF declarada e acintosamente, sem papas na língua. Usa um fdp sem o mínimo de parcimônia, respeito, na mesma medida que manda um jornalista calar a boca; ou emite “caralhos”, “porras” etc, etc, aos borbotões, publica ou privadamente (oh, privada mente!). Fala o que bem quer, sem a mínima noção ou respaldo e ainda se acha no direito de defender aquilo que quer como verdade absoluta, e não está nem aí pra Constituição, qualquer lei, que se lhe jogue na direção, ou qualquer respeito ao cargo ou ao outro que, por dever, lhe compete a função. Não quer diálogo, nem discussão, e, sem provas, quer impor uma ideia golpista para alimentar o ego (ou pretensão eleitoral) por achar ter o respaldo cego de outros egos cegos.
O descontrole verbal pode até ser natural, mas não deve ser encarado como algo normal a quem ocupa um cargo de direção importante como a Presidência da República, sobre a qual residem as esperanças por dias melhores de milhões pessoas, as quais não deveriam se esvair em um evidente despreparo ou destemperança.
Pena que a indignação mexa pouco, mexa com poucos, e apesar de um sem-número de notas de repúdio, petições, ações judiciais, entre outras centenas de pedidos de impeachment nada se vê mais direto, concreto. Tudo vai depender ainda de longos processos e uns bons “bate-papos”. Nenhum ato em curso curto. Afinal, democracia é assim: precisa de ritos, pra evitar maiores conflitos e todos tenham os mesmos direitos de ataque e defesa. Mas é lenta em corrigir defeitos.
Desculpem-me, mas tudo isso realmente me indigna: ver entre tantas arrogâncias, as ignorâncias avançarem em toda sua pujança e só aumentarem nossas agonias nas mais diversas instâncias.
A esperança é que toda lábia falsa é falha, apesar de seu poder de navalha, que infelizmente até agora não se cala e só atrapalha a vida e valor de quem verdadeiramente valha e trabalha. Mais ainda: quem muito diz, desdiz e logo se contradiz, põe a moral por um tris; impõe à vergonha litígio; perde o brio, perde o prestígio.
Texto: Evandro Lobo – Jornalista e Poeta