Caso não tenham percebido, abril é um dos meses mais recheados de feriados ou datas importantes. Não apenas os principais, como a Semana Santa e o 21 de Abril, que além de lembrar Tiradentes este ano de 2022 vai ter o Carnaval do Rio, por causa da pândega nas datas e comemorações provocada pela pandemia de Covid que adiou a “festa da carne” para logo depois da “festa do espírito”.
Mas também temos em abril duas datas que poderiam merecer muito mais destaques: dia 22, data do Descobrimento e o Dia dó Índio, dia 19, que deveriam ser tão ou mais reverenciadas que o próprio Dia de Tiradentes, o qual segundo a revisão e reavaliação dos historiadores não mereceria um feriado e uma aclamação tão grande como tem até hoje. Bastava só ser lembrado e estudado e o nome honrado. mas jamais reverenciado com estampa de moeda (5 centavos), nome de cidade, de rua, de praças e de metrô, além de ser o Patrono das PMs “por seus valores e história” . Alguns historiadores, no entanto, consideram que ele próprio não gostaria dessas reverências, caso soubesse o que ia lhe acontecer.
Até os anos 70, nas salas de aula, Tiradentes era um símbolo carregado de valor, mas, com o surgimento de novos estudos aprofundados, o movimento histórico em torno dele passou a ser abordado de forma mais científica e objetiva. O alferes, de origem humilde, descontente com o domínio colonial e por não ter sido promovido de posto, cheio de dívidas com a Coroa portuguesa passou a integrar algumas reuniões secretas promovidas pela elite mineradora, igualmente descontente com os desmandos do Império.
Marcado o início do motim para fevereiro de 1789, os inconfidentes foram denunciados por Joaquim Silvério dos Reis e a conspiração não chegou a se concretizar e, no final, só quem teve a sentença maior foi o alferes, que teve o corpo esquartejado e cada parte exposta em diferentes trechos para servir de exemplo. Ou seja, entrou numa enrascada, acabou sendo mártir e passou a ser usado como símbolo de luta pela liberdade no Brasil, uma imagem necessária para a construção de uma ideia de nação. A Ditadura Militar também tomou a figura de Tiradentes como o seu representante e inaugurou o seu feriado.
A participação de Tiradentes na formação histórica nacional é incontestável, mas o uso da imagem como um mito é questionável, inclusive, devido a participação nos fatos que envolveram a “inconfidência”, que não pode ser encarada com um levante popular.
Por outro lado, não se lembra que dia 22 de abril temos a data do Descobrimento do Brasil, e mesmo que a data seja questionável (muitos dizem que outros colonizadores estiveram por aqui antes de 1500) é um marco historio; e o dia 19 é o Dia do Índio, que lembra os primeiros habitantes e parece que serão os últimos, devido à extinção física, social, cultural, econômica que eles vem experimentando aos poucos. Esses sim, os verdadeiros herois nacionais, que mereciam muito mais que só uma data para se fantasiar as crianças com cocares de penas e pintar as caras delas com pinturas indígenas.
Texto: Evandro Lobo/ Jornalista e Poeta