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CRÔNICAS DO COTIDIANO: A TV é Agro e o jornalismo virou feno

Não adianta inventar desculpas para esconder a exigência de “corte gastos”. Os que exigem isso, jornalistas ou não, querem: que o Estado brasileiro mate de fome ou inanição os miseráveis e a maior parte dos pobres; desempregue os que estão de carteira profissional assinada; acabe com a Farmácia Popular, que fornece remédio aos pobres; revogue o Benefício de Prestação Continuada (BPC), determinado pelo art. 203 da CF/88 e dado aos acometidos por comorbidades permanentes e a idosos sem renda, mandando-os esmolar nas ruas; a desvinculação do salário-mínimo das aposentadorias do INSS; o mergulho do país na recessão, promovendo a debacle da indústria e fechamento dos pequenos negócios prestadores de serviço, imitando o Milei na Argentina. 

É isso que significa “corte de gastos” recorrente em todas as falas dos jornalistas/comentaristas econômicos enfurecidos com o governo, alimentados com o “feno” do Agro e incitados pelo “mercado”. E quem é esse mercado? O financiador da mídia poderosa do país, que inclui as emissoras de maior audiência que pautam o que vai ser notícia, com o fito de formar a opinião pública; estas são secundadas por outras que atuam tanto na TV aberta e quanto na paga e por internet, com forte DNA no setor financeiro e no agronegócio. A esses grupos estão aliados os grupos do jornalismo impresso/eletrônico, ditadores de pautas e editoriais virulentos, sem revelar quem apoiam.

O Cerco está fechado e os economistas que servem a todos eles e à jogatina nas bolsas de valores estão a serviço da mídia como “apoio técnico”. Não dizem a verdade a seu público, pois, se assim o fizessem, grande parte dele saberia que o corte gastos doeria na sua própria pele.

São muitos atores exercendo a “criatividade especulativa”, misturando fatos, medindo humores dos autocratas do mundo, as falas dos diretores do FED, as quebras de safra, o “Boletim Focus” e, pasmem, a leitura bilabial dos gestores de economia dos estados para arriscar palpites. Portanto, no Brasil de hoje, se um pintinho desgarrado do carro da granja cair na Faria Lima (centro financeiro de S.Paulo) é interpretado como sinal de bom ou mau augúrio; se o Presidente da República disser uma palavra que machuque os “ouvidos de seda” dos jornalistas que vivem de “bastidores” e “fontes milagrosas”, amparados pelo “segredo constitucional às fontes de informação”, o escândalo está feito, canta imediatamente nos blogs e se reproduz nos programas que pouco ou nada de jornalismo têm, são de opinião dirigida.

O que se deduz: jornalismo de alfaiataria, sob medida, que ludibria o povo e favorece a quem lhe patrocina! E como se forma a opinião pública a ser medida nas pesquisas contratadas pela mídia? Pela internet, usando os algoritmos, que são instrumentos usados pela computação para direcionar os conteúdos aos interessados ou possíveis interessados nas redes sociais e de informação.

No noticiário da televisão (aberta ou paga) e na imprensa escrita usam-se os “operadores ou marcadores argumentativos, também conhecidos como articuladores textuais ou marcadores discursivos…elementos da língua explícitos na própria estrutura gramatical da frase cuja finalidade é a de indicar a argumentatividade dos enunciados” (Wikipédia). Por exemplo, onde couber, coloque frases ou palavras-chave como; “avaliação do governo em baixa”, “rombo nas contas públicas”, “corte de gastos”, “falta de articulação”, “ministro fraco”, “Presidente misógino”, “Governo sem rumo” e “Alta dos alimentos”, sem explicar por quê! Repetidos ad nauseam, obtêm-se a formação de uma opinião pública que “evidencia a queda na popularidade do governo”.

Depois disso, almejam: flexibilização na negociação trabalhista até chegar ao ponto em que cada patrão fique livre para discutir o preço da mão de obra, rasgando a CLT; acabar com o Sistema Único de Saúde; vender as Universidades Públicas aos conglomerados econômicos mundiais, que compram escolas, refinarias privatizadas, cervejarias criadas por monges belgas e lojas de departamento. Enquanto a mídia se encarrega da guerra ideológica, infiltraram-se nos Aparelhos de Estado colocando seus prepostos em postos proeminentes. A sem-vergonhice é grande!

Texto: Walmir de Albuquerque Barbosa – Jornalista e Escritor

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