A promulgação da Lei 14.759 e os desafios do racismo no Brasil ressaltam a necessidade de celebrar e ensinar sobre a resistência afrodescendente nas escolas.
O racismo persiste. De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2023, o Brasil registrou 11.610 ocorrências de racismo, representando um crescimento de 127% em relação ao ano anterior. Esse dado demonstra a importância do Dia da Consciência Negra, celebrado no dia 20 de novembro. A data marca a luta e a resistência da população negra, além de destacar o legado histórico e cultural dos povos africanos e afrodescendentes.
“A data é oportunidade para que estudantes, professores e toda a sociedade reflitam sobre o impacto do racismo e celebrem a contribuição dos afrodescendentes para a construção do Brasil”, comenta Ana Paula Aguiar, autora de Filosofia, História e Sociologia do Sistema de Ensino pH. A especialista reuniu algumas informações relevantes para que todos possam entender melhor a celebração.
A origem do Dia da Consciência Negra
Celebrada em 20 de novembro, a data remete à morte de Zumbi dos Palmares, em 1695, líder do Quilombo dos Palmares e símbolo de resistência contra a escravidão e a luta por direitos da população negra no Brasil. Foi criada pelo poeta e militante negro brasileiro, Oliveira Silveira, e tem como propósito representar a luta contínua contra a marginalização da população negra e busca valorizar as influências culturais e históricas dos afrodescendentes no Brasil.
Neste contexto, a recente promulgação da Lei 14.759, que oficializa o Dia da Consciência Negra como feriado nacional, torna essa reflexão ainda mais relevante. “A lei não apenas destaca a importância do debate sobre racismo e cidadania, mas também proporciona uma oportunidade para reafirmarmos nosso compromisso com a pluralidade cultural e a construção de uma sociedade mais igualitária”, salienta.
Por que abordar essa temática nas escolas?
Conhecer a história do Dia da Consciência Negra proporciona aos estudantes uma compreensão profunda sobre o passado escravista do Brasil e seus impactos. A educação é uma ferramenta poderosa de conscientização e transformação social, promovendo o respeito à diversidade e o combate ao racismo. “Assim como o Dia da Mulher nos faz refletir sobre questões de gênero, o Dia da Consciência Negra nos convida a refletir sobre o racismo estrutural e a trabalhar por uma sociedade mais justa e igualitária”, destaca Ana Paula.
Desafios para a valorização da herança africana no Brasil
A cultura negra é fundamental para a formação da identidade brasileira, mas foi apenas a partir do século XX que manifestações, rituais e costumes de origem africana passaram a ser aceitos como expressões nacionais. O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2024, “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil” levou milhares de brasileiros a refletirem sobre as dificuldades e a importância dessa valorização. A escolha do tema certamente não foi coincidência, especialmente em um ano em que a Lei 14.759/2024 oficializou o Dia da Consciência Negra como feriado nacional.
Práticas para a data
De acordo com Ana Paula, para celebrar e promover o Dia da Consciência Negra, as escolas podem adotar práticas como rodas de conversa, debates sobre racismo, oficinas de dança e música inspiradas em tradições africanas, além de exposições de artes visuais. Atividades como a leitura de autores negros e a exibição de filmes e documentários são formas de ampliar o conhecimento dos alunos e inspirá-los a valorizar e respeitar a diversidade.
Junção das culturas africanas e brasileiras
A especialista lembra ainda que cultura africana está profundamente enraizada no Brasil, influenciando aspectos como a culinária, música, dança, religião e até mesmo a língua. De acordo com Ana Paula, reconhecer e valorizar essas influências é fundamental para construir uma visão mais inclusiva e realista da identidade brasileira. “O samba, a capoeira e o maracatu são exemplos de expressões culturais afro-brasileiras que fazem parte da nossa cultura e nos lembram das raízes africanas presentes em nosso cotidiano”, ressalta.
Construção de uma sociedade inclusiva
O ensino sobre a Consciência Negra é essencial para a formação de uma sociedade mais justa e inclusiva. Abordar temas como a história da escravidão, o impacto do racismo e a riqueza cultural dos afrodescendentes, ajuda a promover uma reflexão crítica e a empatia. “A conscientização deve ser trabalhada de forma contínua e transversal, não apenas no Dia da Consciência Negra, mas durante todo o ano, para que possamos avançar na luta por igualdade”, sugere Ana Paula.
Fonte: Mira Comunicação / Sistema de Ensino
Foto: Acervo – Agência Brasil