Manaus completa 353 anos nesse 24 de outubro.

Difícil não remeter o pensamento ao passado bucólico da Paris dos Trópicos e comparar com a Metrópole da Selva, agitada e desordenada, mas pulsante e confiante num futuro edificante.

Para quem confia ou desconfia, nada melhor que poesia . . .

DES/ENCANTAÇÕES MANAUS

Queria ter estado lá no teu passado secular e sucumbir ao devaneio ante o frescor que parecia habitar por entre teus prédios soturnos, e suas fachadas e grandes janelas abertas,casarões, casebres estendidos por vias extensas e sedutoramente desertas.

Lá , o silêncio parecia um deus, cultuado por teus moradores entre murmúrios do vento,reles conversas sobre a vida, os outros, o tempo…

Queria ter estado e passeado a pé por entre árvores e colher-lhes os segredos que até hoje deves esconder soterrados e engolidos pelo degredo de teu pomar de tantos medos de estar longe do mundo e ao mesmo tento procurar alcançar os próprios caminhos tal o compasso lento dos teus poucos bondes.

Queria poder transportar o espírito, o corpo sem pressa por entre boulevards, praças, ruas,

travessas e sonhar os sonhos de então para saber-lhes a razão e saborear toda aquela paixão regressa, reversa … de então.

Parece-me que havia enlevos,expressões definidase simplicidade disponíveis,mesmo no mais rústico barraco, no mais suntuoso palacete na mais simplória riqueza na mais inglória pobreza.

Pena que hoje tudo carece de uma melhor definição: porque tudo mudou, tudo ficou sujo e ruiu, sucumbiu às retóricas sem fio, nem pavio,progresso e desvios.

Tuas vias agora estreitas,engarrafadas, tumultuadas.

Sujeitas a tantos males.

Teus igarapés, hoje poluídos,transbordam-se no medo,estertores, dores e fezes provocada por vezes pelos próprios moradores.

Queria não estar cansado de querer ter estado aqui no passado.

Talvez não experimentasse o vivido e ficasse abalado pelo que foi alterado.

Ou só ter entendido o que aconteceu por tudo ter infelizmente mudado.

Texto: Evandro Lobo / Jornalista e Poeta