Num país tão grande e farto em alimentos como o nosso é difícil imaginar que se fale em fome por aqui. Mas o pior é que ela existe e segundo o Datafolha, 1 em cada 4 brasileiros não tem comida suficiente em casa.
A pesquisa da segunda edição do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil registrou ainda que 33 milhões de pessoas passam fome e a pobreza supera 40% em 14 dos 27 Estados, conforme aponta a Fundação Getúlio Vargas Social.
Enquanto isso, um levantamento da ONU mostra que o Brasil desperdiça por ano cerca de 27 milhões de toneladas de alimentos e segundo estudo publicado no Índice de Desperdício de Alimentos 2021, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente o desperdício de comida no país poderia alimentar 12 milhões de pessoas por ano.
Muito além dos números, a situação é realmente séria quando se vê os supermercados darem fim, destruir (quem sabe) alimentos que perdem a validade ao invés de reduzir o preço; nas feiras ainda vão para o lixo uma quantidade imensa de frutas e verduras que poderiam ser aproveitadas e o que as padarias fazem com os pães embalados que perdem a validade ? E ainda: o que restaurantes fazem, ao fim do dia, com os alimentos que não foram vendidos ou não consumidos pelos clientes ?
É claro que essas dúvidas são uma visão simplista da situação, quando se imagina que boa parte do problema poderia ser resolvido se as pessoas pudessem mesmo é comprar os alimentos e não dependerem de doações das ONGs, que por sinal já estão em dificuldades de manter essas doações diante de tanto aumento, uma inflação de dois dígitos, e a falta de políticas públicas sérias que permitam um acesso melhor e maior ao que comer razoavelmente bem?
Até a própria classe média, a que em princípio teria mais o que comer e no entanto é a que mais desperdiça, já se vê numa situação complicada para compor um cesta básica de alimentos diante da escalada descontrolada dos preços.
O pior é que nos próximos meses, por conta das eleições, só vamos nos “alimentar” de ilusão e promessas, e outras situações que só agradam, engordam, os interesses (e brigas) pessoais dos candidatos.
Texto: Evandro Lobo/ Jornalista e Poeta