Vou logo avisando: o título dessa crônica não tem nada a ver comigo.
Embora a solidão me persiga (mas isso é assunto pra outra conversa).
O que quero tratar aqui é o fato de terem chamado o maluco que provocou explosões em Brasília
de “ação de um lobo solitário”, referindo-se ao fato de o “ato” não ter sido, a princípio,
de um grupo ou movimento político, muito embora o desorientado pirotecnista tenha tido ligações
com o PL e as ideias antidemocráticas que remetam às atuais intenções de negação,
destruição do estado de direito, do STF e seus ministros.
Mas, enfim, considerações políticas à parte, considerar o ato de um “lobo sanitário”,
é no mínimo é um desrespeito ao valor dos lobos que, mesmo solitários,
não agem com tal ignorância.
Os lobos são animais incríveis e espetaculares e não merecem essa desqualificação ou relação.
Aliás, na minha humilde opinião de escriba, acho que os lobos, ao longo das histórias
e estórias que nos foram repassadas sempre foram colocados como cruéis,
sanguinários, e intencionalmente malvados, haja vista as versões infantis de Chapeuzinho Vermelho
e Os Três Porquinhos e uma série de desenhos animados para tv em que o lobo corre atrás de presas
pretensamente frágeis para saciar sua insaciável fome por carne. Até mesmo o Loopy,
do desenho Loopy Le Beau (Loopy De Loop , na versão original, da Hanna Barbera, de 1959),
um lobo que tenta mostrar que é bom e cavalheiro, mas não consegue convencer
de suas intenções e acaba sendo perseguido e agredido.
A expressão “lobo em pele de cordeiro” também reforça a discriminação com relação a esses canídeos,
pois significa aqueles que se disfarçam de bonzinhos e quando menos se espera,
atacam, agridem, roubam, destroem reputações.
Por sinal, a expressão é fundamentada na parábola bíblica.
“Cuidado com os falsos profetas, que vêm até vós vestidos de ovelha, mas, interiormente, são lobos devoradores” (Mateus 7;15) Para mim, só concordo em ficar atento ao perigo que esses falsos profetas
que se dizem pastores de ovelhas perdidas e normalmente conduzem de forma tão cristã.
Peço-vos, então que manerem em atribuir aos lobos essa pecha tão negativa, essa aversão.
Olhem e respeitem.
Os lobos, como disse, são fantásticos, fascinantes, senão vejamos:
- Força física, poderosos, resistentes, resilientes, adaptáveis, espertos. inteligentes, sociais(com um nível de cooperativismo e fidelidade incríveis). Sem contar os olhos atentos de dia e à noite, que fazem perceber o menor perigo, e a mais necessária presa. Tudo pela mais pura objetividade, nada por maldade.
Aos olhos dos lobos
A noite se perpetua
E ultrapassa
Os encantos da lua.
Texto: Evandro Lobo – Jornalista, Escritor e Poeta