Quando tudo parecia perdido, um homem leu a luz de velas que o “justo viverá pela fé” (Romanos 1.17).
Dia 31 de outubro de 1517 a Igreja de Cristo celebra aquilo que se tornou o grande marco na História da Igreja, como também para o mundo: A Reforma Protestante. Data em que o monge agostiniano alemão Martinho Lutero (1483-1546), saindo de seu monastério afixou à porta da igreja do Castelo, em Wittenberg, as suas 95 teses contra a venda de indulgências. O conteúdo das 95 teses resume-se em que Cristo exige o arrependimento e a tristeza pelo pecado, e não o ato errôneo da penitência. As 95 teses afixadas na porta da igreja eram um convite para o debate público. O que era costume naquele tempo. As teses, escritas em latim, tão logo foram traduzidas para o alemão, holandês e espanhol, chegando também na Itália.
Por esse tempo, a maioria das pessoas acreditava em purgatório, um lugar de tormento para onde as pessoas ia depois da morte, a fim de purgar seus pecados antes de sua promoção. O Frade dominicano Tetzel (1465-1519) vendia indulgências – promessas que vinham do papa com a garantia de diminuir o tempo de purgatório. Se pregava: “Assim que a moeda cai no cofre, sobe a alma do purgatório”. Portanto, as 95 teses de Lutero não tencionavam ataques à igreja, mas protestavam contra essas indulgências e contra a ambição da igreja em relação à riqueza.
Lutero fora chamado a Roma para responder a uma denúncia de heresia. Mas tal oposição tornou Lutero ainda mais resoluto. “Eles te queimarão vivo”, diziam seus amigos. Lutero, porém, afirmou: “Se Deus sustenta a causa, ela será sustentada”. A ordem do papa foi: “Retrate-se ou não voltará daqui”. Mas, Lutero fugiu na escuridão da noite. Ao chegar novamente em Wittenberg, era o homem mais conhecido em toda a Alemanha.
Começou a atacar a infalibilidade do papa. Lutero ao receber a bula papal que o ameaçava de excomunhão, respondendo com um tratado ao papa Leão X, repreendendo-o em nome de Cristo, a que se arrependesse, queimou a bula papal fora da cidade diante da grande multidão do povo.
O imperador Carlos V conclamou uma assembleia na cidade de Worms para que Lutero comparecesse para sua defesa perante os seus acusadores. Ali estava Lutero, diante de uma das mais imponentes assembleias postas contra ele. Antes, Lutero passara a noite em vigília, orando e clamando a Deus.
Lutero perante a assembleia, então, disse:
“Se não me refutardes pelo testemunho das Escrituras ou por argumentos – uma vez que não creio somente nos papas e nos concílios, por ser evidente que já muitas vezes se enganaram e se contradisseram uns aos outros -, a minha consciência tem de ficar submissa à Palavra de Deus… não é justo nem seguro agir contra a consciência. Deus me ajude! Amém”.
Houve grande alvoroço na cidade de Worms ao receber as palavras ousadas de Lutero à mensagem do papa. Tais palavras foram publicadas e espalhadas entre o povo, que corriam para honrá-lo.
Os papistas não conseguiram influenciar o imperador a queimarem Lutero numa fogueira. Lutero foi considerado um criminoso. Tinha que ser entregue ao imperador. Ter os seus livros queimados. Regressando a Wittenberg, foi conduzido, alta noite, por cavaleiros, ao castelo de Wartburgo – uma estratégia para salvar Lutero das garras inimigas.
Foi, nesse contexto, que Lutero produziu grande volume de literatura. Conhecia o hebraico e o grego. Traduziu o Novo Testamento para o alemão. A tradução da Bíblia foi uma das maiores contribuições do monge para os humildes do povo alemão. Lutero preparou o caminho para que o povo fosse livre para amar e servir a Deus. Escreveu alguns hinos – dos quais ainda são cantados atualmente. Compilou o primeiro hinário. Deu grande ênfase à instrução. Tanto homens como mulheres, pela influência de Lutero tinham direitos à educação. Lutero resgatou a supremacia das Escrituras, centralizando-a no culto. Resgatou a primazia da pregação nos cultos. Fora um homem de uma espiritualidade piedosa.
Muito antes do papa tentar executá-lo na fogueira, o Pai Celeste o chamara para a eternidade – Lutero sofrera um ataque do coração.
O grande marco da Reforma Protestante foi o retorno às Escrituras Sagradas. A Reforma, portanto, contribuiu muito em todas as esferas da vida – nas artes, na literatura, na ciência, na política, na educação.
Texto: Francisco Ediney Reis- Escritor